quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Raimunda, Raimunda

“Raimunda, Raimunda” é uma tetralogia, ou seja, é composta por quatro estórias. A primeira é “Raimunda Jovita na Roleta da Vida ou Quis o Destino: de Pucella a Ninon!”. A segunda é “O Trágico Destino de Duas Raimundas ou Os Amores de Lampião Antes de Maria Bonita e Só Agora Revelados”; a seguir, temos “Raimunda Pinto, Sim Senhor!” e por fim, “Ramanda e Rudá”. Embora possuam certo elo de continuidade, são estórias diferentes, podendo ser montadas separadamente.

Raimunda Pinto, Sim Senhor!

A estória começa em 1942 em um subúrbio de Fortaleza, no estado do Ceará. O mundo vivia o contexto da Segunda Guerra Mundial. Raimunda é uma mulher pobre, feia e leporina, ou seja, possui uma deformação no lábio e no céu da boca, o que a deixa com a voz fanhosa. Sentindo-se rejeitada, sem conseguir sequer um namorado, como as amigas, resolve seguir para o Rio de Janeiro, onde pretende submeter-se a uma cirurgia e curar-se do problema. Advertida pela mãe de que não têm dinheiro para pagar a cirurgia, Raimunda mantém-se firme em seu propósito.

“... Vou pro Rio de Janeiro de qualquer jeito e me matriculo na Anna Nery. Vou ser enfermeira e como enfermeira – não é? – me opero de graça. Ficar de lado é que eu não fico. Juro.”

Acompanhada das amigas Isaura e Lindalva, partem para o Rio de Janeiro pedindo carona a caminhoneiros. Isaura e Lindalva resolvem segui-la por medo de estar grávidas e ficar mal faladas na cidade, já que haviam se entregado aos encantos de marinheiros americanos que estavam de passagem pelo Ceará.

Ao chegar a Juazeiro da Bahia, Isaura e Lindalva resolvem ficar para tentar ganhar a vida na noite ou, como diz o autor, “deixam atrair pela Grande Zona”. Raimunda, firme às suas metas, segue para o Rio de Janeiro.

Raimunda encontra um encantador de serpentes que a seduz, prometendo transformá-la numa grande artista circense, fazendo-a ganhar muito dinheiro apresentando um número de dança com jiboias. Iriam assim de cidade em cidade com o circo até chegar ao Rio de Janeiro. Raimunda usa suas economias para comprar duas jiboias e inicia sua vida artística como a internacional Miss Urânia, no aplaudido número Eva no Paraíso. Pouco tempo depois, porém, o encantador de serpentes a abandona, levando suas jiboias. Desiludida, Raimunda é consolada pelo palhaço Goiabinha, com quem prossegue viagem até chegar à Praça da Bandeira, no Rio de Janeiro.

“- Goiabinha, você é um amor. Me beije e me enxugue as lágrimas com vosso lencinho de mil cores.”

Dirige-se então à Escola de Enfermagem Anna Nery, porém é rejeitada. Resolve apelar para o presidente e vai ao Palácio do Catete tentar uma audiência com Getúlio Vargas. Depois de muita insistência, finalmente é recebida. Getúlio, compadecido, concede-lhe matrícula na Anna Nery e ainda a cirurgia para corrigir-lhe o defeito físico.

Cirurgia realizada, perde a fanhosidade e fica bela. Como enfermeira, conhece um famoso costureiro chamado Oly, que a convida a mudar de profissão e se tornar modelo profissional, apresentando suas coleções pelo mundo. Nas mãos do costureiro, Raimunda vira Raymonde, uma encantadora princesa de magnatas.

Durante um de seus desfiles, Raimunda conhece um Play Boy que a convence a largar as passarelas por uma vida de luxo e riqueza. Posteriormente, descobre que ele não passa de um gingolô, já que é casado e que só a queria para entregá-la a um milionário. O milionário também promete casar-se com ela, porém, em troca de dinheiro, entrega-a a um senador americano.

Mesmo sabendo de toda a transação, casa-se com o senador e vai morar em Washington, Estados Unidos.

Raimunda vive entediada, apesar da vida de riqueza. Manda vir do Brasil as amigas Isaura e Lindalva. Estão agora casadas com marinheiros, que passam a maior parte do tempo no mar, mas lhes proporcionam certo conforto financeiro. Relembram a vida de aventuras e dificuldades e festejam sua nova condição, levantando um brinde “às quenguinhas da beira do São Francisco”.

Na cena seguinte, Raimunda e o senador sobrevoam os céus do Pacífico na véspera da rendição japonesa na Segunda Guerra Mundial. Avista Hiroshima e decide não retornar aos Estados Unidos.

“... Sempre fui uma seduzida pelos mistérios do Oriente. E depois, este nome Hiroshima tem um quê de sol radiante! Sinto que vou amar um japonês. Fico por aqui.”

Sem saber o que estava por vir, salta do avião.

“Louca, a bomba, understand?”, grita o senador.

Nossa heroína é testemunha ocular da tragédia de Hiroshima. Ao pular do avião, houve um blecaute seguido de um grande estrondo. Quando foi clareando, viu no que cidade tinha se transformado. Sentiu que estava sozinha. Ouviu os acordes de Asa Branca e lembrou-se do seu Ceará.

“Seria um vexame se não houvesse um cearense para testemunhar esta desolação, esta névoa, este mundo sem gemidos, sem tempo de dores, sem pânico – mudo, cremado. Grandes filhos duma égua! É. Volto para o meu Ceará. Mando rachar o céu-da-boca para reencontrar a antiga forma. Fanha! Vou tomar conta de Adilza, Adirfa e Adelfa. O mundo em que entrei, com a cara e a coragem, dá-me engulhos. Porco, podre, poluído. Com Adilza, Adirfa e Adelfa não estarei só. E elas botarão ovos, azuis, dourados, para mim e para vocês também.

(Entra, em cambalhotas o palhaço Goiabinha.)

Raimunda: Goiabinha!

Palhaço: Miss Urânia!

Raimunda: Me beije e me enxugue as lágrimas com o vosso lenço de mil cores.

(Música: No Ceará não disso não.)

O Autor

Francisco Pereira da Silva nasceu na cidade de Campo Maior, estado do Piauí, em 11 de agosto de 1918. Ainda jovem, mudou-se para a capital Teresina, cursando o ginásio no Liceu Piauiense. Morou algum tempo em São Luís do Maranhão, transferindo-se no início da década de 1940 para o Rio de Janeiro, onde concluiu os estudos clássicos no renomado Colégio Pedro II. Estudou Direito e Biblioteconomia, tendo sido nomeado bibliotecário na Biblioteca Nacional em 1944.

Publicou contos em revistas e jornais do sul do país, mas foi no teatro que se consolidou como grande escritor.

“Escreveu 18 peças, entre as quais podemos destacar “Viagem” (1946); “Lázaro” (1948), que lhe valeu o prêmio de autor revelação daquele ano, concedido pelo Círculo Independente de Autores Teatrais; “Cristo Proclamado” (1958); Chapéu de Sebo” e “O Vaso Suspirado” (1963); “Chão de Penitentes” (1964); além de peças como “Uma Carga de Laranjas”, “Reino do Mar Sem Fim”, entre outras.

Em 1972, Chico Pereira, como era carinhosamente conhecido, escreveu a importante obra “Raimunda, Raimunda”, dedicada à atriz Fernanda Montenegro, sua grande amiga. Talvez este tenha sido seu trabalho que mais vezes foi levado ao palco.

Francisco Pereira da Silva morreu no dia 8 de abril de 1985, em seu apartamento no Leblon, cidade do Rio de Janeiro, aos 66 anos de idade.

A seu respeito, escreveu o diretor de teatro Tarciso Prado:

“Quem já estudou, criteriosamente, os trabalhos desse piauiense, há de pelo menos ter descoberto, além da exuberância tão própria do seu talento de escritor, uma linguagem intencional ou subjetiva que dá à sua criação indiscutível universalidade.”

E ainda:

“Difícil encontrar um autor de teatro tão exigente com sua arte, como o velho Chico. Era teimoso ao perseguir os meandros da perfeição, capaz de atingir o extremo cansaço, no aprimoramento de uma frase ou de uma emoção.”

“Antecipou-se à sua época, escrevendo um teatro moderno e altamente avançado, quando as produções de então eram todas conservadoras.”

Sobre sua morte, escreveu:

“No dia 8 de abril de 1985, Francisco Pereira da Silva, desolado em seu modesto apartamento na Avenida Ataulfo de Paiva, no Leblon, esquecido dos amigos e de sua gente “piauizeira”, encantou-se em um Serafim. Montou um cavalo de vento e percorreu a imensidão das caatingas do Piauí. Sentiu o perfume das juremeiras, das macambiras, das coroas-de-frade; e parou para rever os campos de chananas ‘que lembravam vôos de borboletas amarelas’. Foi seguido por bandos de anuns brancos e negros, corrupiões, galos-de-campina e canarinhos da terra que o acompanharam a São Saruê.”

Questões

01. (UESPI) Raimunda Pinto, sim senhor, de Francisco Pereira da Silva, se inscreve no universo temático que vamos encontrar em outras obras do autor: o êxodo rural, a dura realidade do sertanejo e a crítica de forte conotação social. No caso específico desta obra, é correto afirmar:

a) Raimunda, a personagem principal da peça, é maranhense e se destaca pela sua beleza.
b) Apesar da sua deslumbrante beleza, a personagem principal tem lábio leporino.
c) A estória se passa durante a 1ª. Grande Guerra Mundial e se desdobra até os Anos 20.
d) Apesar de ser desprovida de beleza, a personagem de Raimunda é rica, o que lhe permite viajar bastante.
e) O sonho de Raimunda é se tornar enfermeira. Daí ela se dirigir à cidade do Rio de Janeiro.

02. (UESPI) A peça Raimunda Pinto, sim senhor fala das peripécias da personagem que lhe dá título. Esta comédia compõe a tetralogia Raimunda, Raimunda, escrita por Francisco Pereira da Silva, para homenagear a atriz Fernanda Montenegro. Ainda sobre esta comédia é correto afirmar:

a) A obra inscreve a personagem Raimunda em várias situações. Numa delas, vamos encontrá-la a bordo do avião Enola Gay.
b) A peça tem apenas três cenários: as cidades de Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro.
c) A peça Raimunda Pinto, sim senhor tanto explora uma linguagem coloquial quanto um vocabulário erudito.
d) A vida da personagem Raimunda Pinto é permeada sempre de alegria e de momentos de júbilos.
e) Toda a existência de Raimunda Pinto é uma grande tragédia, o que faz a peça ser um quase melodrama.

03. (Meu Blog Acadêmico) Em Raimunda Pinto, sim senhor, ao dirigir-se ao Rio de Janeiro para curar-se do lábio leporino e tornar-se enfermeira, Raimunda o faz na companhia das amigas:

a) Goiabinha e Miss Urânia.
b) Adilza e Adelfa.
c) Isaura e Lindalva.
d) Lindalva e Adirfa.
e) Adilza, Adirfa e Adelfa

04. (Meu Blog Acadêmico) Sobre o desfecho da obra Raimunda Pinto, sim senhor, pode-se afirmar:

a) Raimunda morre ao pular do avião que atirou a bomba atômica contra Hiroshima.
b) Decepcionada com ‘o mundo no qual entrou’, de luxo e conforto financeiro, após testemunhar a tragédia de Hiroshima, Raimunda resolve retornar ao seu Ceará e passar os dias cuidando de suas galinhas.
c) Raimunda termina seus dias em Washington, casada com um senador americano, feliz por ter superado sua vida de pobreza e sofrimento.
d) Raimunda aposenta-se como enfermeira da Escola de Enfermagem Anna Nery.
e) A peça termina em show de Raimunda Pinto, famosa artista, conhecida pelo nome artístico de Miss Urânia.

05. (Meu Blog Acadêmico) Sobre o autor de Raimunda Pinto, sim senhor, Francisco Pereira da Silva, é correto afirmar:

a) É natural de Amarante, tendo como fonte de inspiração para muitos de seus trabalhos, o Rio Parnaíba.
b) Por ter ido muito jovem morar no Rio de Janeiro, retratou em suas obras unicamente os costumes e os tipos cariocas.
c) Apesar da consagrada tetralogia teatral Raimunda, Raimunda, Chico Pereira, como era carinhosamente conhecido, ficou mais conhecido como autor de crônicas e poesias.
d) Sua obra é marcada pelo culto da língua portuguesa em sua modalidade padrão.
e) Nascido em Campo Maior, morou também em Teresina, em São Luís do Maranhão e no Rio de Janeiro, onde morreu em 1985, esquecido dos amigos e de sua gente “piauizeira”, nas palavras do escritor Tarciso Prado.

06. (Meu Blog Acadêmico) Raimunda Pinto, sim senhor faz parte da tetralogia Raimunda, Raimunda, escrita por Francisco Pereira da Silva e dedicada a sua amiga, a atriz:

a) Lari Sales.
b) Aracy Balabanian.
c) Vera Leite.
d) Fernanda Montenegro.
e) Marília Pêra.


Gabarito:

01. E
02. A
03. C
04. B
05. E
06. D


Observação:

Todos os posts sobre a obra Raimunda Pinto, Sim Senhor! tiveram como fonte o livro Raimunda, Raimunda – Tetralogia Piauiense de Teatro, de Francisco Pereira da Silva, edição de 2008, cujos direitos são reservados ao Grupo Harém de Teatro.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

ANÁLISE DA OBRA IRACEMA, DE JOSÉ DE ALENCAR



Vida do Autor

José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, Ceará, no ano de 1829. Formou-se na Faculdade de Direito em Recife. Com o falecimento do pai, Alencar ingressa na vida política como deputado do Ceará. Mais tarde, é eleito Ministro da Justiça, mas é rejeitado pelo Imperador D. Pedro II. Com isso, Alencar decide deixar a vida política e se dedica à literatura. Portador da tuberculose, resolve ir à Europa para um tratamento. Sem nenhum resultado, regressa ao Rio de Janeiro onde vem a falecer no ano de 1877.

Estilo

- Luta pela criação de uma língua literária brasileira com a incorporação de falas regionais e de expressões indígenas.
- Procurou criar um sentimento de identidade nacional com sua obra indianista.
- As narrativas são marcadas por forte moralismo, com ausência de cenas de sexualismo explícito.
- A linguagem é carregada de adjetivação, descritismo e musicalidade.
- Suas personagens são idealizadas.

Contribuição para a história brasileira

Após a independência política, em 1822, os escritores necessitavam também de uma independência artística e estética. Eles visavam criar uma literatura propriamente nacional, por isso era preciso adotar um nome tutelar pátrio e foi no índio que a figura de um símbolo heróico surgiu. O índio era um sujeito indomável, livre e filho da terra. As qualidades dos cavaleiros medievais foram tipicamente aculturadas, tornando-o o símbolo da Terra e da Pátria. Essa foi a forma de criar aquele passado mítico necessário ao orgulho nacional. Diversos escritores procuraram criar um projeto de nacionalização da literatura brasileira, mas foi através das obras de José Alencar (Guarani-1857, Iracema- 1875 e Ubirajara- 1871), que se fundou um romance propriamente nacional.

Resumo

O Romance Iracema conta a história triste de amor entre Martim, o guerreiro português e Iracema, jovem e bela índia tabajara, filha de Araquém, pajé da tribo. Martim sai à caça com seu amigo Poti, guerreiro Pitiguara, e perde-se do companheiro. De tanto caminhar, Martim acaba se encontrando nos campos dos inimigos tabajaras. O guerreiro encontra-se com Iracema que, amedrontada, rapidamente o fere com uma flechada. Arrependida de ter machucado o guerreiro branco, ela o acolhe na cabana de Araquém, chefe da Tribo Tabajara. Iracema pede ao guerreiro que esperasse a volta de Caubi, seu irmão, para que possa chegar são e salvo às terras Pitiguaras. Porém, Iracema apaixona-se por Martim e acaba traindo o segredo de jurema, que guardava como virgem de Tupã. Por causa de sua traição, Iracema acompanha Martim, deixando na sua tribo um ambiente de revolta, acirrado pelos ciúmes de Irapuã, chefe dos guerreiros Tabajaras e inimigos dos Pitiguaras. Por sua fuga e pela traição do hóspede português, é desencadeada uma guerra de vingança e os tabajaras são derrotados. Iracema vê seus irmãos mortos. Martim, vendo a tristeza da esposa, resolve, junto com seu amigo Poti, morar bem longe das terras Tabajaras. Durante algum tempo, Iracema e Martim vivem uma vida regada de amor. Depois de algumas luas, Iracema anuncia ao guerreiro e a seu amigo Poti que está esperando um filho. O amor de Martim começa a esfriar e para amenizar a nostalgia da pátria distante, causa de sua frieza para com a esposa, ausenta-se em longas e demoradas jornadas. Em um dos seus regressos, encontra Iracema à beira da morte. Exausta pelo esforço que fizera para alimentar o filho recém-nascido e pela tristeza que acabou deteriorando sua formosura, a virgem dos lábios de mel entrega o filho, a quem dera o nome de Moacir, para Martim e em seguida morre. Martim enterra o corpo da esposa abaixo de um coqueiro e parte para sua terra natal, levando o filho e a saudade da fiel companheira.

Estrutura do Enredo

Apresentação - A apresentação inicia-se pela caracterização do local que será o cenário do romance. Em sequência, é feito pelo autor um breve comentário, dizendo que contará uma história que lhe contaram em sua Terra Natal. Logo e por fim, é feita a apresentação das personagens principais (Iracema e Martim). Vale lembrar que o romance inicia-se no segundo capítulo, já que no primeiro temos a presença de um Flash-Back.

- O primeiro acontecimento que desencadeará o desenvolvimento da narrativa será o encontro entre Martim e Iracema. Nesta passagem, Iracema acaba ferindo Martim com uma flecha e, arrependida, ela acaba quebrando-a, dando a haste para Martim e ficando com a sua ponta. Esse ato equivale simbolicamente a um sinal de paz entre ela (povo nativo) e Martim (o colonizador). Após esse acontecimento, haverá uma sequência de problematizações que contribuirão para o clímax e desfecho da obra.

Clímax - Ocorre com o falecimento da índia

Desenlace - Volta de Martim com o filho Moacir para sua terra natal.

Personagens

Todas as personagens são simples, ou seja, são personagens planas.

Protagonistas - Personagens principais:

Iracema (Protagonista Maior) - “A virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque com seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação Tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas”. (ALENCAR, 2006, p.12). Filha do chefe da tribo Tabajara, era a guardiã do segredo de Jurema.

Martim (Protagonista Menor) - “Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.” (ALENCAR, 2006, p.12). Guerreiro português aliado da tribo Pitiguara.

Antagonista

Irapuã - É o chefe dos guerreiros Tabajaras. Inimigo dos portugueses e aliado dos holandeses. Irapuã é um indivíduo agressivo, movido sempre pelo ódio e pelo desejo de vingança. Procura realizar-se pela força e pela violência. Ama Iracema e sente-se enciumado com a presença do estrangeiro na cabana de Araquém.

Personagens tipos

Poti - Um dos chefes dos guerreiros pitiguaras, é amigo de Martim, de quem se considera irmão. Poti destaca-se ao lado dos portugueses na luta contra os invasores holandeses no final do romance. Foi o primeiro índio a ser batizado, e recebe o nome de Antônio Felipe Camarão. Significa no romance a amizade.

Araquém - Pai de Iracema e Caubi, Araquém é o pajé dos tabajaras. Como feiticeiro da tribo, detém os poderes de Tupã. Sua força decorre da prudência e da sabedoria da velhice. No romance simboliza a sabedoria.

Caubi - É filho de Araquém e irmão de Iracema. Guerreiro forte e valente que não guarda rancor da irmã. Simboliza no romance o perdão.

Moacir - É o filho de Iracema e Martim. Representa a miscigenação entre o português e o índio e também o primeiro cearense. Significa no romance o povo brasileiro.

Personagens Secundários: Andira, Jacaúna, Batuireté e Jatobá.

Tempo

No romance predomina o tempo cronológico, que é marcado pelos ritmos da natureza, ou seja, é delimitado pelos elementos da natureza, como a mudança de estações, mudança das luas e pela mudança dos dias. Por fim, podemos perceber que o tempo histórico ocorre no descobrimento do Brasil, mais especificamente no século XVII, já que o livro retrata a luta para a expulsão dos holandeses do nordeste.
“Tempos depois, quando veio Albuquerque, o grande chefe dos guerreiros brancos, Martim e Camarão partiram para as margens do Mearim a castigar o feroz Tupinambá e expulsar o branco Tapuia”. (ALENCAR,2006, p.87).

Espaço

É visto no romance Iracema a valorização da cor local. O autor usa de adjetivos para caracterizar as paisagens do Ceará. Ele apresenta a cor local brasileira quando se refere às praias, rios e florestas e ainda podemos ressaltar as referências de lugares como Porangaba e Mecejana.

Foco Narrativo

Narrador-Observador

O romance é narrado em terceira pessoa (Alencar conta a história de acordo com o que observa dos sentimentos e do comportamento das personagens). Em alguns trechos, é possível localizarmos o envolvimento e a admiração que o autor tem com a Lenda que conta.
“O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu”. (ALENCAR,2006, p.13).
O uso da primeira pessoa é justificado quando o autor cita logo no início do romance que contará uma história que lhe foi contada.
“Uma história que me contaram nas lindas várzeas onde nasci (…)”. (ALENCAR, 2006, p.11).

Tema: Mito que conta a formação do Ceará.

Características Românticas

- Imaginação criadora/Subjetividade

Criações não existentes no mundo real, mas na imaginação do autor. Iracema é era descrita de uma forma totalmente diferente dos índios que realmente existiam nas matas do Brasil.
“O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque com seu hálito perfumado”.(ALENCAR, 2006, p. 12).

- Sentimentalismo

O sentimentalismo está presente em toda a obra de José de Alencar.
“Sofreu mais d’alma que da ferida”. (ALENCAR, p.13)

- Escapismo religioso - “O cristão repeliu do seio a virgem indiana. Ele não deixará o rasto da desgraça na cabana hospedeira. Cerra os olhos para não ver; e enche sua alma com o nome e a veneração de seu Deus: – Cristo !… Cristo! …”. (ALENCAR, 2006, p. 29).

Escapismo para os sonhos - “Agora podia viver com Iracema, e colher em seus lábios o beijo, que ali viçava entre sorrisos, como o fruto da corola na flor. Podia amá-la, e sugar desse amor o mel e o perfume, sem deixar veneno no seio da virgem.” (ALENCAR, 2006, p.30).

Escapismo para a morte - “Quando teu filho deixar o seio de Iracema, ela morrerá, como o abati depois que deu seu fruto. Então o guerreiro branco não terá mais quem o prenda na terra estrangeira”. (ALENCAR, 2006, p. 51).

- Nacionalismo (Ufanismo)

Necessidade de eleger símbolos que representem à pátria (natureza e o índio).

- Idealização

Heroína/ Amor/ Natureza

“A virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que o talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque com seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação Tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas”. (ALENCAR, 2006, p.12).

“Nunca mais a alegria voltará ao seio de Iracema: ela vai ficar, como o tronco nu, sem ramas nem sombras”. (ALENCAR, 2006, p. 28).

“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente,perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;” . (ALENCAR, 2006, p. 11).

- Indianismo

Resgata o ideal do “bom selvagem”, que segundo Rosseau a sociedade corrompe. Sua perfeição seria o índio que não tinha contato com a sociedade corrompida.

- Religiosidade

“Poti foi o primeiro que ajoelhou aos pés do sagrado lenho; não sofria ele que nada mais o separasse de seu irmão branco. Deviam ter ambos um só deus, como tinham um só coração”. (ALENCAR, 2006, p. 87).



Fonte: http://www.alamedavirtual.com.br/analise-da-obra-iracema-jose-de-alencar/

IRACEMA


Iracema, por José Maria de Medeiros.


Iracema (ou Iracema, lenda do Ceará) é um romance da literatura romântica brasileira publicado em 1865 e escrito por José de Alencar, fazendo parte da trilogia indianista do autor. Os outros dois romances pertencentes à trilogia são O guarani e Ubirajara.



Iracema, por Antônio Parreiras.


O romance conta, de forma poética, o amor quase impossível entre um branco, Martim Soares Moreno, pela bela índia Iracema, a virgem dos lábios de mel e de cabelos mais negros que a asa da graúna e explica poeticamente as origens da terra natal do autor, o Ceará.


Personagens

Iracema: Índia da tribo dos tabajaras, filha de Araquém, velho pajé; era uma espécie de vestal (no sentido de ter a sua virgindade consagrada à divindade) por guardar o segredo de Jurema (bebida mágica utilizada nos rituais religiosos); anagrama de América. "A virgem dos lábios de mel.
Martim: Guerreiro branco, amigo dos pitiguaras, habitantes do litoral, adversários dos tabajaras; os pitiguaras lhe deram o nome de Coatiabo.
Moacir: Filho de Iracema e Martim, o primeiro brasileiro miscigenado.
Poti: Herói dos pitiguaras, amigo (que se considerava irmão) de Martim.
Irapuã: Chefe dos guerreiros tabajaras; apaixonado por Iracema.
Caubi: Índio tabajara, irmão de Iracema.
Jacaúna: Chefe dos guerreiros pitiguaras, irmão de Poti.
Araquém: Pajé da tribo Tabajara. Pai de Iracema e Caubi.
Batuirité: o avô de Poti, o qual denomina Martim Gavião Branco, fazendo, antes de morrer, a profecia da destruição de seu povo pelos brancos.

Características

O gênero literário

Para José de Alencar, como explicita o subtítulo de seu romance, Iracema é uma "Lenda do Ceará". É também, segundo diferentes críticos e historiadores, um poema em prosa, um romance poemático, um exemplo de prosa poética, um romance histórico-indianista, uma narrativa épico-lírica ou mitopoética. Cada uma dessas definições põe em relevo um aspecto da obra e nenhuma a esgota: a lenda, a narrativa, a poesia, o heroísmo, o lirismo, a história, o mito.

Tempo

O encontro da natureza (Iracema) e da civilização (Martim) projeta-se na duplicidade da marcação temporal. Há em Iracema um tempo poético, marcado pelos ritmos da natureza e pela percepção sensorial de sua passagem (as estações, a lua, o sol, a brisa), o qual predomina no corpo da narrativa; e um tempo histórico, cronológico. O tempo histórico situa-se nos primeiros anos do século XVII, quando Portugal ainda estava sob o domínio espanhol (União Ibérica). A dinastia castelhana ou filipina reinava em Portugal e em suas colônias ultramarinas.
A ação inicia-se entre 1603 e o começo de 1604, e prolonga-se até 1611. O episódio amoroso entre Martim e Iracema, do encontro à morte da protagonista, dá-se em 1604 e ocupa quase todo o romance, do capítulo II ao XXXII.

O espaço

A valorização da cor local, do típico, do exótico, inscreve-se na intenção nacionalista de embelezar a terra natal por meio de metáforas e comparações que ampliam as imagens de um Nordeste paradisíaco, primitivo, que nada tem a ver com a aspereza do sertão do semi-árido. É o Nordeste das praias e das serras (Ibiapaba), dos rios (Parnaíba e Jaguaribe) e da Bica do Ipu ou Bica de Iracema.

Análise

A relação do casal serviria de alegoria para a formação da nação brasileira. A índia Iracema representaria a natureza virgem e a inocência, enquanto o colonizador Martim (referência explícita ao deus romano da guerra Marte) representa a cultura europeia. Da junção dos dois surgirá a nação brasileira, representada alegoricamente pelo filho do casal, Moacir ("filho da dor").

A palavra Iracema é um anagrama de América. Para alguns críticos, esse anagrama é proposital, e o livro trata-se, pois, de uma metáfora sobre a colonização americana pelos europeus. O desenvolvimento da história e, principalmente, o final, remetem fortemente à história local.

IRACEMA
AMERICA

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Iracema (Adaptado)

Biografia do autor

O autor

José Martiniano de Alencar (Messejana, 1 de maio de 1829 — Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 1877) foi um jornalista, político, advogado, orador, crítico, cronista, polemista, romancista e dramaturgo brasileiro.

Formou-se em Direito, iniciando-se na atividade literária no Correio Mercantil e no Diário do Rio de Janeiro. Foi casado com Ana Cochrane. Filho do senador José Martiniano Pereira de Alencar, irmão do diplomata Leonel Martiniano de Alencar, barão de Alencar, e pai de Augusto Cochrane de Alencar.

Nasceu em Messejana, na época um município vizinho a Fortaleza. A família transferiu-se para a capital do Império do Brasil, Rio de Janeiro, e José de Alencar, então com onze anos, foi matriculado no Colégio de Instrução Elementar. Em 1844, matriculou-se nos cursos preparatórios à Faculdade de Direito de São Paulo, começando o curso de Direito em 1846. Fundou, na época, a revista Ensaios Literários, onde publicou o artigo questões de estilo. Formou-se em Direito, em 1850, e, em 1854, estreou como folhetinista no Correio Mercantil. Em 1856 publica o primeiro romance, Cinco Minutos, seguido de A Viuvinha em 1857. Mas é com O Guarani em (1857) que alcançará notoriedade. Estes romances foram publicados todos em jornais e só depois em livros.

José de Alencar foi mais longe nos romances que completam a trilogia indigenista: Iracema (1865) e Ubirajara (1874). O primeiro, epopeia sobre a origem do Ceará, tem como personagem principal a índia Iracema, a "virgem dos lábios de mel" e "cabelos tão escuros como a asa da graúna". O segundo tem por personagem Ubirajara, valente guerreiro indígena que durante a história cresce em direção à maturidade.

Em 1859, tornou-se chefe da Secretaria do Ministério da Justiça, sendo depois consultor do mesmo. Em 1860 ingressou na política, como deputado estadual no Ceará, sempre militando pelo Partido Conservador (Brasil Império). Em 1868, tornou-se ministro da Justiça, ocupando o cargo até janeiro de 1870. Em 1869, candidatou-se ao senado do Império, não tendo sido escolhido pelo Imperador por ser muito jovem ainda.

Em 1872 se tornou pai de Mário de Alencar, o qual, segundo uma história nunca totalmente confirmada, seria na verdade filho de Machado de Assis, dando respaldo para o romance Dom Casmurro. Viajou para a Europa em 1877, para tentar um tratamento médico, porém não teve sucesso. Faleceu no Rio de Janeiro no mesmo ano, vitimado pela tuberculose. Machado de Assis, que esteve no velório de Alencar, impressionou-se com a pobreza em que a família Alencar vivia.

Produziu também romances urbanos (Senhora, 1875; Encarnação, escrito em 1877, ano de sua morte e divulgado em 1893), regionalistas (O Gaúcho, 1870; O Sertanejo, 1875) e históricos (Guerra dos Mascates, 1873), além de peças para o teatro. Uma característica marcante de sua obra é o nacionalismo, tanto nos temas quanto nas inovações no uso da língua portuguesa. Em um momento de consolidação da Independência, Alencar representou um dos mais sinceros esforços patrióticos em povoar o Brasil com conhecimento e cultura próprios, em construir novos caminhos para a literatura no país. Em sua homenagem foi erguida uma estátua no Rio de Janeiro e um teatro em Fortaleza chamado "Teatro José de Alencar".

Características da obra de Alencar

A obra de José de Alencar pode ser dividida em dois grupos distintos

Quanto ao Espaço Geográfico

• O sertão do Nordeste - O Sertanejo
• O litoral cearense - Iracema
• Fogo na babilônia
• O pampa gaúcho - O Gaúcho
• A zona rural - Til (interior paulista), O Tronco do Ipê (zona da mata fluminense)
• A cidade, a sociedade burguesa do Segundo Reinado - Diva, Lucíola, Senhora e os demais romances urbanos.

Quanto à Evolução Histórica

• O período pré-cabralino - Ubirajara.
• A fase de formação da nacionalidade - Iracema e O Guarani.
• A ocupação do território, a colonização e o sentimento nativista - As Minas de Prata (o bandeirantismo) e Guerra dos Mascates (rebelião colonial).
• O presente, a vida urbana de seu tempo, a burguesia fluminense do século XIX - os romances urbanos Diva, Lucíola, Senhora e outros.

Obras

Romances

Cinco minutos, 1856
A viuvinha, 1857
O guarani, 1857
Lucíola, 1862
Diva, 1864
Iracema, 1865
As minas de prata - 1º vol., 1865
As minas de prata - 2.º vol., 1866
O gaúcho, 1870
A pata da gazela, 1870
O tronco do ipê, 1871
Guerra dos mascates - 1º vol., 1871
Til, 1871
Sonhos d'ouro, 1872
Alfarrábios, 1873
Guerra dos mascates - 2º vol., 1873
Ubirajara, 1874
O sertanejo, 1875
Senhora, 1875
Encarnação, 1877

Teatro

O crédito, 1857
Verso e reverso, 1857
O Demônio Familiar, 1857
As asas de um anjo, 1858
Mãe, 1860
A expiação, 1867
O jesuíta, 1875

Crônica

Ao correr da pena, 1874

Autobiografia
Como e por que sou romancista, 1873 (eBook)

Crítica e polêmica

Cartas sobre a confederação dos tamoios, 1856
Ao imperador:cartas políticas de Erasmo e Novas cartas políticas de Erasmo, 1865
Ao povo:cartas políticas de Erasmo, 1866
O sistema representativo, 1866

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_de_Alencar