terça-feira, 23 de agosto de 2011

ANÁLISE DA OBRA IRACEMA, DE JOSÉ DE ALENCAR



Vida do Autor

José Martiniano de Alencar nasceu em Mecejana, Ceará, no ano de 1829. Formou-se na Faculdade de Direito em Recife. Com o falecimento do pai, Alencar ingressa na vida política como deputado do Ceará. Mais tarde, é eleito Ministro da Justiça, mas é rejeitado pelo Imperador D. Pedro II. Com isso, Alencar decide deixar a vida política e se dedica à literatura. Portador da tuberculose, resolve ir à Europa para um tratamento. Sem nenhum resultado, regressa ao Rio de Janeiro onde vem a falecer no ano de 1877.

Estilo

- Luta pela criação de uma língua literária brasileira com a incorporação de falas regionais e de expressões indígenas.
- Procurou criar um sentimento de identidade nacional com sua obra indianista.
- As narrativas são marcadas por forte moralismo, com ausência de cenas de sexualismo explícito.
- A linguagem é carregada de adjetivação, descritismo e musicalidade.
- Suas personagens são idealizadas.

Contribuição para a história brasileira

Após a independência política, em 1822, os escritores necessitavam também de uma independência artística e estética. Eles visavam criar uma literatura propriamente nacional, por isso era preciso adotar um nome tutelar pátrio e foi no índio que a figura de um símbolo heróico surgiu. O índio era um sujeito indomável, livre e filho da terra. As qualidades dos cavaleiros medievais foram tipicamente aculturadas, tornando-o o símbolo da Terra e da Pátria. Essa foi a forma de criar aquele passado mítico necessário ao orgulho nacional. Diversos escritores procuraram criar um projeto de nacionalização da literatura brasileira, mas foi através das obras de José Alencar (Guarani-1857, Iracema- 1875 e Ubirajara- 1871), que se fundou um romance propriamente nacional.

Resumo

O Romance Iracema conta a história triste de amor entre Martim, o guerreiro português e Iracema, jovem e bela índia tabajara, filha de Araquém, pajé da tribo. Martim sai à caça com seu amigo Poti, guerreiro Pitiguara, e perde-se do companheiro. De tanto caminhar, Martim acaba se encontrando nos campos dos inimigos tabajaras. O guerreiro encontra-se com Iracema que, amedrontada, rapidamente o fere com uma flechada. Arrependida de ter machucado o guerreiro branco, ela o acolhe na cabana de Araquém, chefe da Tribo Tabajara. Iracema pede ao guerreiro que esperasse a volta de Caubi, seu irmão, para que possa chegar são e salvo às terras Pitiguaras. Porém, Iracema apaixona-se por Martim e acaba traindo o segredo de jurema, que guardava como virgem de Tupã. Por causa de sua traição, Iracema acompanha Martim, deixando na sua tribo um ambiente de revolta, acirrado pelos ciúmes de Irapuã, chefe dos guerreiros Tabajaras e inimigos dos Pitiguaras. Por sua fuga e pela traição do hóspede português, é desencadeada uma guerra de vingança e os tabajaras são derrotados. Iracema vê seus irmãos mortos. Martim, vendo a tristeza da esposa, resolve, junto com seu amigo Poti, morar bem longe das terras Tabajaras. Durante algum tempo, Iracema e Martim vivem uma vida regada de amor. Depois de algumas luas, Iracema anuncia ao guerreiro e a seu amigo Poti que está esperando um filho. O amor de Martim começa a esfriar e para amenizar a nostalgia da pátria distante, causa de sua frieza para com a esposa, ausenta-se em longas e demoradas jornadas. Em um dos seus regressos, encontra Iracema à beira da morte. Exausta pelo esforço que fizera para alimentar o filho recém-nascido e pela tristeza que acabou deteriorando sua formosura, a virgem dos lábios de mel entrega o filho, a quem dera o nome de Moacir, para Martim e em seguida morre. Martim enterra o corpo da esposa abaixo de um coqueiro e parte para sua terra natal, levando o filho e a saudade da fiel companheira.

Estrutura do Enredo

Apresentação - A apresentação inicia-se pela caracterização do local que será o cenário do romance. Em sequência, é feito pelo autor um breve comentário, dizendo que contará uma história que lhe contaram em sua Terra Natal. Logo e por fim, é feita a apresentação das personagens principais (Iracema e Martim). Vale lembrar que o romance inicia-se no segundo capítulo, já que no primeiro temos a presença de um Flash-Back.

- O primeiro acontecimento que desencadeará o desenvolvimento da narrativa será o encontro entre Martim e Iracema. Nesta passagem, Iracema acaba ferindo Martim com uma flecha e, arrependida, ela acaba quebrando-a, dando a haste para Martim e ficando com a sua ponta. Esse ato equivale simbolicamente a um sinal de paz entre ela (povo nativo) e Martim (o colonizador). Após esse acontecimento, haverá uma sequência de problematizações que contribuirão para o clímax e desfecho da obra.

Clímax - Ocorre com o falecimento da índia

Desenlace - Volta de Martim com o filho Moacir para sua terra natal.

Personagens

Todas as personagens são simples, ou seja, são personagens planas.

Protagonistas - Personagens principais:

Iracema (Protagonista Maior) - “A virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque com seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação Tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas”. (ALENCAR, 2006, p.12). Filha do chefe da tribo Tabajara, era a guardiã do segredo de Jurema.

Martim (Protagonista Menor) - “Tem nas faces o branco das areias que bordam o mar; nos olhos o azul triste das águas profundas. Ignotas armas e tecidos ignotos cobrem-lhe o corpo.” (ALENCAR, 2006, p.12). Guerreiro português aliado da tribo Pitiguara.

Antagonista

Irapuã - É o chefe dos guerreiros Tabajaras. Inimigo dos portugueses e aliado dos holandeses. Irapuã é um indivíduo agressivo, movido sempre pelo ódio e pelo desejo de vingança. Procura realizar-se pela força e pela violência. Ama Iracema e sente-se enciumado com a presença do estrangeiro na cabana de Araquém.

Personagens tipos

Poti - Um dos chefes dos guerreiros pitiguaras, é amigo de Martim, de quem se considera irmão. Poti destaca-se ao lado dos portugueses na luta contra os invasores holandeses no final do romance. Foi o primeiro índio a ser batizado, e recebe o nome de Antônio Felipe Camarão. Significa no romance a amizade.

Araquém - Pai de Iracema e Caubi, Araquém é o pajé dos tabajaras. Como feiticeiro da tribo, detém os poderes de Tupã. Sua força decorre da prudência e da sabedoria da velhice. No romance simboliza a sabedoria.

Caubi - É filho de Araquém e irmão de Iracema. Guerreiro forte e valente que não guarda rancor da irmã. Simboliza no romance o perdão.

Moacir - É o filho de Iracema e Martim. Representa a miscigenação entre o português e o índio e também o primeiro cearense. Significa no romance o povo brasileiro.

Personagens Secundários: Andira, Jacaúna, Batuireté e Jatobá.

Tempo

No romance predomina o tempo cronológico, que é marcado pelos ritmos da natureza, ou seja, é delimitado pelos elementos da natureza, como a mudança de estações, mudança das luas e pela mudança dos dias. Por fim, podemos perceber que o tempo histórico ocorre no descobrimento do Brasil, mais especificamente no século XVII, já que o livro retrata a luta para a expulsão dos holandeses do nordeste.
“Tempos depois, quando veio Albuquerque, o grande chefe dos guerreiros brancos, Martim e Camarão partiram para as margens do Mearim a castigar o feroz Tupinambá e expulsar o branco Tapuia”. (ALENCAR,2006, p.87).

Espaço

É visto no romance Iracema a valorização da cor local. O autor usa de adjetivos para caracterizar as paisagens do Ceará. Ele apresenta a cor local brasileira quando se refere às praias, rios e florestas e ainda podemos ressaltar as referências de lugares como Porangaba e Mecejana.

Foco Narrativo

Narrador-Observador

O romance é narrado em terceira pessoa (Alencar conta a história de acordo com o que observa dos sentimentos e do comportamento das personagens). Em alguns trechos, é possível localizarmos o envolvimento e a admiração que o autor tem com a Lenda que conta.
“O sentimento que ele pôs nos olhos e no rosto, não o sei eu”. (ALENCAR,2006, p.13).
O uso da primeira pessoa é justificado quando o autor cita logo no início do romance que contará uma história que lhe foi contada.
“Uma história que me contaram nas lindas várzeas onde nasci (…)”. (ALENCAR, 2006, p.11).

Tema: Mito que conta a formação do Ceará.

Características Românticas

- Imaginação criadora/Subjetividade

Criações não existentes no mundo real, mas na imaginação do autor. Iracema é era descrita de uma forma totalmente diferente dos índios que realmente existiam nas matas do Brasil.
“O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque com seu hálito perfumado”.(ALENCAR, 2006, p. 12).

- Sentimentalismo

O sentimentalismo está presente em toda a obra de José de Alencar.
“Sofreu mais d’alma que da ferida”. (ALENCAR, p.13)

- Escapismo religioso - “O cristão repeliu do seio a virgem indiana. Ele não deixará o rasto da desgraça na cabana hospedeira. Cerra os olhos para não ver; e enche sua alma com o nome e a veneração de seu Deus: – Cristo !… Cristo! …”. (ALENCAR, 2006, p. 29).

Escapismo para os sonhos - “Agora podia viver com Iracema, e colher em seus lábios o beijo, que ali viçava entre sorrisos, como o fruto da corola na flor. Podia amá-la, e sugar desse amor o mel e o perfume, sem deixar veneno no seio da virgem.” (ALENCAR, 2006, p.30).

Escapismo para a morte - “Quando teu filho deixar o seio de Iracema, ela morrerá, como o abati depois que deu seu fruto. Então o guerreiro branco não terá mais quem o prenda na terra estrangeira”. (ALENCAR, 2006, p. 51).

- Nacionalismo (Ufanismo)

Necessidade de eleger símbolos que representem à pátria (natureza e o índio).

- Idealização

Heroína/ Amor/ Natureza

“A virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que o talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque com seu hálito perfumado. Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação Tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas”. (ALENCAR, 2006, p.12).

“Nunca mais a alegria voltará ao seio de Iracema: ela vai ficar, como o tronco nu, sem ramas nem sombras”. (ALENCAR, 2006, p. 28).

“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba;
Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente,perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;” . (ALENCAR, 2006, p. 11).

- Indianismo

Resgata o ideal do “bom selvagem”, que segundo Rosseau a sociedade corrompe. Sua perfeição seria o índio que não tinha contato com a sociedade corrompida.

- Religiosidade

“Poti foi o primeiro que ajoelhou aos pés do sagrado lenho; não sofria ele que nada mais o separasse de seu irmão branco. Deviam ter ambos um só deus, como tinham um só coração”. (ALENCAR, 2006, p. 87).



Fonte: http://www.alamedavirtual.com.br/analise-da-obra-iracema-jose-de-alencar/

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